quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Olhos vermelhos


            Muitas histórias já começaram com um esbarrão sem querer, onde os livros caem por toda parte e as pessoas envolvidas, timidamente se agacham para juntar as desamparadas e pobres páginas escancaradas pelo chão. Mas nenhuma abalou tanto a consciência humana, bem escondida e quase inalcançável, como esta o fez. O começo desta história também é assim, mas ela nada tem de usual e por sorte teremos a oportunidade de acompanhar este caso e nos perdermos ainda mais na complexidade que somos.
Para entendermos melhor o que faz esse incidente aparentemente comum se tornar tão especial, é preciso inicialmente conhecer quem é Carlos, o dono dos livros que agora ele e Vanessa recolhem pelo chão. Um garoto franzino, que se perde fácil na multidão com suas roupas simples e vários clássicos da literatura como acompanhantes. A típica pessoa que passa despercebida. Vocês dificilmente se lembrarão de alguém assim para fazer uma associação, mas é justamente este o ponto. Sempre de cabeça baixa, mirando os próprios pés, é facilmente confundido com os milhares de adolescentes tímidos que infestam o mundo. Mas não é a timidez que lhe pesa o queixo. É o medo, a aflição, visivelmente estampados em seus excêntricos olhos vermelhos. Não a vermelhidão típica dos alérgicos ou usuários de drogas. Sua íris é escarlate, como nas fotos onde o flash faz o sangue sobressair ao tom normal.
Sangue é uma ótima maneira de tentar explicar a anomalia, pois desde muito pequeno Carlos aprendeu que seus olhos não eram apenas diferentes. Amaldiçoados seria o melhor termo. Dizem que os olhos são a porta para a alma, e Carlos descobriu da pior maneira possível o quão real é este ditado. Sempre que sua íris escarlate encontrava a de alguém diretamente, o momento e as circunstâncias exatas da morte daquela pessoa surgiam na mente do garoto. Quanto mais se olhavam, mais detalhes lhe eram revelados. Não era uma sensação etérea, muito menos o tempo parava para que ele vivenciasse a cena. Tudo simplesmente brotava em sua cabeça, como uma lembrança fresca e viva, daquelas que nos fazem sentir os cheiros e ouvir exatamente os sons quando pensamos nelas. Infelizmente não era uma “memória” agradável.
Ainda um bebê, e até alcançar seus cinco ou seis anos, tudo não lhe parecia ser mais do que pesadelos horríveis e aparentemente sem nexo algum, visões assustadoras que todos temos de vez em quando, mesmo depois de velhos, ao vermos algo realmente perturbador. Mas quando o primeiro pesadelo se reproduziu na vida real, exatamente igual a cena que sua mente havia produzido, o choque não foi capaz de esconder a verdade, como geralmente nossa mente tende a fazer para nos defender de fatos obscuros. Suas visões não eram sonhos. “Premonição” também é um termo equivocado. Seria mais adequado dizer que ele havia presenciado o acontecimento, não em corpo, afinal não se pode viajar no tempo, mas como se sua alma fora capaz de encostar à alma da vítima e de algum modo ter assistido seus últimos instantes com perfeição.
Agora imaginem vocês revisitando a morte de sua mãe sempre que ela vem lhe dar um beijo de boa noite, ou ver seu melhor amigo sendo atropelado por um caminhão toda vez que ele lhe aperta a mão ao se encontram. Chega uma hora que a última coisa que querem no mundo é olhar as pessoas nos olhos. E é exatamente o que Carlos vem tentando fazer nos últimos anos. Evitar o máximo que pode o contato visual. Existem situações que são impossíveis de se escapar, mas mesmo assim ele faz o melhor que pode. Tentem então imaginar o quanto as pessoas acham estranho esse garoto magrelo, que sempre conversa olhando para o teto, para o chão, no máximo para o ombro de alguém, e que prefere a companhia das folhas amareladas e capas duras da literatura ao calor e entusiasmo das pessoas, que só sabem julgar e excluir aqueles que não se encaixam no comportamento tido para elas como normal.
É incrível como a sociedade gosta de ser cruel com quem é diferente, como se ao maltratar tal pária estariam se reafirmando como seres humanos perfeitos e superiores. No entanto, Carlos apreciava a exclusão. Preferia se perder dentro de um livro a ter que fingir que limpava algo debaixo da unha nas raras ocasiões em que conversava com alguém. Porém as piadas, os risos disfarçados, e os escancarados, quando ele chegava ou passava por algum lugar, seja na faculdade, no ônibus, nos bares, eram quase tão ruins quanto suas visões malditas. Quase.
Voltemos agora para o inicio da história, Carlos e Vanessa agachados juntos, ela pegando “Os três mosqueteiros” e “Frankenstein”, enquanto ele resgatava “Oliver Twist” e “A dama das camélias”.
-Por favor, me desculpe. – pediu a garota com sinceridade. – Eu estava com a cabeça em outro lugar e nem me dei conta por onde estava andando.
-Não se preocupe, eu também não estava prestando muita atenção. – replicou o garoto, muito educado, apesar de suas palavras mal passarem de um sussurro acanhado. Naquele momento ele não conseguia parar de pensar que o perfume dela era tão doce quanto sua voz. E foi exatamente aquela fragrância que o fez levantar os olhos, como se a essência fosse um imã especial para aquela que a usa.
O choque fora uma das piores sensações que aquele rapaz havia sentido em todos esses anos amaldiçoados. Não pela aparência de Vanessa, é claro, que era uma mulher linda, de longos cabelos castanhos e lisos, cintura fina, mas sem a magreza exagerada que rege os padrões de beleza atuais, rosto simetricamente delgado e bem esculpido. Tal beleza, não tão fora do comum, mas um pouco difícil de encontrar, de vez em quando também causa certo choque, ao vermos assim tão de perto, quando o cheiro se mistura com o calor da presença. Mas o que fez Carlos quase saltar para trás, desviando o olhar com o maior vigor possível e um grito sufocado na garganta estava longe de ser algo belo.
Era óbvio que ela o encarava diretamente, afinal não se imagina que os olhos de alguém possam ser capazes de causar tamanho sofrimento apenas com um simples contato. E mesmo com todo seu cuidado para nunca encontrar o olhar de alguém, a situação conduziu o rapaz, e não foi nem a primeira nem a última vez que uma mulher fez com que um homem quebrasse regras importantes que teoricamente seguiríamos à risca. E por uma fração de segundo ele enxergou a morte mais uma vez nos olhos verdes da moça, revelando como cortaria o cordão de prata dela. Isso por si só já era motivo de espanto, mas o pior foi ter visto a si mesmo como responsável direto pelo óbito.
-Não imaginei que eu era tão feia assim, e olha que fiquei horas na frente do espelho hoje de manhã tentando melhorar. – brincou Vanessa, lutando para não ficar acanhada com a situação.
-Desculpe-me, não é nada disso. – respondeu o rapaz, que por sua vez ficava cada vez mais vermelho. – Juro que não tem nada a ver com isso. Você de fato é muito bonita. Eu é que não estou acostumado com situações como essas.
-Eu estava brincando, mas obrigado mesmo assim pelo elogio. – só depois que ela agradeceu que Carlos se dera conta do que havia dito, deixando-o ainda mais encabulando, tentando se esconder atrás de si mesmo. – Agora que sei que não te causo nenhum tipo de medo, pode conversar comigo olhando para mim, eu não vou ligar.
-Deixe esse esquisito aí, Vá. – comentou uma das amigas da garota que estava com ela, antes que ele pudesse responder. – Esse menino é louco, vive mais nos seus livros do que no mundo real. Onde já se viu? Alguém gostar tanto assim de ler.
-Se for para falar bobeira Camila, é melhor que fique quieta. – Vanessa ainda tentou intervir, vendo que o comentário fizera o rapaz se afastar ainda mais, pegando os livros que estavam com ela como se tivesse medo que eles pudessem dar um bote. – Louca é você se não entende a importância de se ler bons livros. Eu mesma gosto muito de literatura. Podem ir que eu alcanço vocês depois.
Mesmo ainda sentindo as pernas tremerem, a respiração ofegante e um zunido agourento nos ouvidos devido ao choque de segundos atrás, o rapaz de olhos vermelhos não conseguia deixar de se sentir grato pela amizade que aquela garota, até então estranha, lhe oferecia.
-Não ligue para o que ela disse. – tentou puxar conversa mais uma vez, num tom quase que de culpa pelas palavras da amiga. – A Camila tem essa mania de falar mais bobeira do que o normal, não fique chateado.
-Obrigado, mas não se preocupe. Ela não é a única que fala isso de mim, e eu na verdade já nem ligo mais. – respondeu, dizendo apenas meia verdade.
-Que bom. – o sorriso magnífico da garota voltou aos seus lábios, mas Carlos o contemplava apenas pelo canto do olho, mais preocupado em esquecer na capa de “Oliver Twist” o que a ceifadora do manto negro havia lhe mostrado. Percebendo que ele realmente não a iria encarar, Vanessa decidiu conversar sobre algo que com certeza o interessava – Você lê alguns livros bem interessantes. Esses eu não conhecia.
-Sério? São ótimos. – respondeu, aproveitando para dar uma folheada nas páginas, como desculpa para não desviar o rosto. – Sou meio viciado nos clássicos.
-Entendo. Eu já prefiro ler algo mais novo, de preferência que o autor ainda esteja vivo. – tornou, meio que orgulhosa por fazer parte da pequena minoria brasileira que aprecia o hábito da leitura.
-Que legal. E quais livros você gosta de ler?
-Qualquer tipo de romance! De preferência algum com vampiros e coisas do gênero!
-Eu sou apaixonado por “Drácula” também, e os livros da Rice.
-Na verdade, - respondeu um pouco envergonhada. – esses eu não conheço.
Era a primeira vez em anos que Carlos dava uma gargalhada tão gostosa e sincera. Vanessa não pôde deixar de notar o quanto aquele rapaz de olhos vermelhos e jeito acanhado era bonito, agradável à companhia apesar de tudo.
-O que foi? Está tirando sarro do meu gosto literário? – perguntou a garota, num tom brincalhão.
-Me desculpe, não fiz por mal, mas não pude evitar. Você definitivamente precisa conhecer alguns clássicos.
E esse fora o passo inicial para que os dois se apaixonassem. Vejam bem, esse não fora um romance que simplesmente aconteceu de uma hora para outra, como estamos acostumados a ver nesses livros tidos como Baixa Literatura, ou Literatura de Massas, que Vanessa gosta de ler, onde o casal se apaixona simplesmente porque é assim que tem que ser. Não, na verdade está mais para um clássico, no qual tenho o exemplo perfeito para comparar. Nosso personagem é como Quasímodo, o famoso corcunda de Notre-Dame, desprezado pela população, aclamado apenas como a maior aberração da cidade. Depois de humilhado e flagelado em praça pública, clamando por um gole de água, a figura que lhe vem matar a sede, Esmeralda, é personificada por Vanessa em nossa história. A beleza da cigana, em adição ao seu ato de pura caridade em meio à humilhação e dor foi mais do que o suficiente para que o corcunda se apaixonasse. Assim foi com Carlos, que, acostumado à exclusão, foi inevitavelmente fisgado pelo companheirismo de Vanessa.
Ela por sua vez demorou um pouco mais para de fato se apaixonar por ele, que não tinha a menor semelhança física com Quasímodo. Mas é claro que esse ponto não é o abalo na consciência humana que eu havia lhes dito no inicio da narrativa. Vejam bem, o relacionamento corria muito bem, ele sempre muito animado, apesar de nunca a olhar nos olhos novamente, e ela aceitando este comportamento, também com bom humor. Porém, o garoto nunca esqueceu a visão macabra que a morte lhe mostrou no dia em que conheceu sua namorada.
Quando ficava sozinho, a lembrança se remoia em sua cabeça, sem o deixar dormir, sempre trazendo aflitas lágrimas de desespero, tentando lavar e apagar aquela assombração para sempre. Mas não era tão simples assim, mesmo mal tendo enxergado os detalhes mais sórdidos.
Acompanhando a angústia, a intimidade do casal também crescia, até que Vanessa finalmente criou coragem e perguntou o porquê de Carlos nunca a olhar diretamente nos olhos. O rapaz sentiu a espinha congelar e o coração parar de bater. Sem coragem, deu a melhor resposta que pôde.
-Nem eu entendo direito. Eu não saberia explicar sem que um de nós enlouquecesse. Por favor, não me peça para explicar isso.
-Desculpe-me querido. Eu não queria incomodá-lo, mas é que seus olhos são tão lindos, mas eu nunca os vejo direito, já que sempre estão virados para outro lugar. – continuou a moça, sem se dar conta do quão paradoxal fora seu elogio.
-Deus sabe o quanto eu queria que não fosse assim. Muitos dizem que um olhar muitas vezes fala mais do que mil palavras. Eu gostaria que eles sempre me dissessem outras coisas do que aquilo que me segredam quando os contemplo.
-Amo quando você fala difícil. – finalizou a garota, abraçando o namorado com um beijo para esquecerem aquele assunto de ar fúnebre.
Depois daquele dia a aflição só aumentou. Carlos não gostava de esconder nada de sua primeira namorada, idealizando os romances que lia. Mas em nenhum deles os personagens haviam sofrido tanto com os caprichos da morte, nem sabiam de antemão que seriam responsáveis por assassinar, mesmo que acidentalmente, aquelas que são geralmente chamadas de almas gêmeas.
Sentia-se cada vez mais impotente. Tentava arrumar forças para dizer a verdade, ao mesmo tempo em que outra parte de sua consciência lhe dizia para se afastar de Vanessa e nunca mais se encontrar com ela de novo. Mas não fazia nem um, nem outro. Como eu havia dito, quando se trata de mulher, dificilmente se faz o que achamos certo ou sensato.
Mas nossa mente não é um recipiente sem fundo onde simplesmente podemos acumular todo o tormento do mundo. O rapaz já quase não conseguia fingir que estava tudo certo quando estava com a namorada. Ela chegou a surpreendê-lo chorando várias vezes, e a agonia que vazava dele começou a cair no tonel da mente dela.
A dor sentida a dois ficara impossível de superar. Carlos precisava desabafar, nem que fosse apenas para soltar uma pequena parte do peso que sentia apertar seu peito. Ele sabia que Vanessa não iria acreditar em nada, mas o simples fato de deixarmos as palavras saírem quando estão nos sufocando já é libertador o suficiente, como se as correntes da culpa ou do medo se desfizessem em pó. E quando o fez, de fato, a garota não só não acreditou, como achou toda aquela história uma piada de muito mau gosto.
-Que brincadeira sem graça é essa, Carlinhos? Eu aqui, preocupada de verdade com seu comportamento de uns tempos para cá, e você vem me inventar uma história absurda dessas. – seu rosto estava vermelho de insegurança e frustração que cresciam inexplicavelmente em seu peito se transformando em ódio, prestes a estourar, como que tentando forçar a realidade a se encaixar no turbilhão de sentimentos que era sua cabeça naquele momento. – E nem tem a coragem de olhar na minha cara para mentir desse jeito.
-Não fique nervosa querida. Eu entendo a dificuldade de acreditar em tudo isso, mas confie em mim, como sempre confiou.
-É difícil levar um pedido desses a sério quando quem o faz está olhando para os meus pés! – o ódio borbulhando cada vez mais forte.
-Você me pede justamente a única coisa que não posso te dar. – as lágrimas embaçaram os olhos vermelhos e escorreram em profusão até o queixo. – Se acha que é ruim para você imagina como é para mim.
-Não pode me dar? Me poupe dessa babaquice. – Vanessa avançou furiosa até o namorado, que se encolheu e virou ainda mais o rosto. – É só virar homem e olhar direto nos meus olhos, não tem nada de impossível nisso.
Ela o agarrou pelas têmporas, puxando-lhe os cabelos com força, tentando virar o rosto dele para si.
-Olhe para mim! – ela berrou. – Olhe! Olhe! Abra os olhos e olhe para mim!
-Eu não posso! – explodiu o garoto. – Pare com isso! Você está me machucando! – sua voz era um soluço desesperado. – Eu realmente não posso olhar para você! Jamais mentiria sobre algo assim. E não é de hoje que não te olho olhos, e isso nunca te incomodou.
-Nunca me incomodou? – perguntou cética aos berros,balançando o garoto com mais força. – O que diabos pensa que eu sou? Eu não falava nada no começo do namoro porque achei que essa sua vergonha não duraria mais do que uma semana. Mas é claro que me incomodava. Que mulher no mundo você acha que não gostaria de poder olhar o namorado nos olhos enquanto ele lhe diz “eu te amo”. Confesso que nas primeiras vezes foi difícil de acreditar nessas palavras quando me dizia olhando para o teto.
-Você está pelo menos ouvindo o que estou falando? Por acaso acha que é fácil para mim? Você tem noção de quantas pessoas morrem felizes, velinhos, deitados em sua própria cama? De todas as centenas que eu já vi, da para contar em uma mão as que foram assim. Todas as outras tiveram fins repugnantes, que só de lembrar me faziam vomitar e perder o sono por semanas.
-Você vai continuar com essa babaquice? – só agora ela largara os cabelos do rapaz, que por instinto dera dois passos para trás depois de solto.
-Você me pediu para contar e eu contei.
-Pedi há milênios atrás! Por que não me contou naquele dia? Ainda não tinha inventado uma história clássica o suficiente?
-Não fique brava meu amor. Eu...
-Não ouse me chamar assim sem me olhar na cara. – interrompeu a garota, ameaçando agarrá-lo de novo.
-Por favor, - ele respirou fundo, sem saber o que mais poderia fazer. - não me peça isso. Minha situação não deixa de ser verdadeira só porque você não acredita.
Era visível o pânico na voz tremida, chorosa, do rapaz. Mas para Vanessa aquela história não passava de uma mentira ignóbil, uma tentativa infantil, fantasiosa, de se esquivar do verdadeiro problema, ou de simplesmente escondê-lo, seja ele qual for. Estava claro que seu namorado não confiava o suficiente nela para lhe contar todos seus segredos, como ela o fazia, e era isso o que a entristecia ainda mais. Disfarçou sua melancolia em raiva e disse:
-Pois me escute bem, Carlos. Se não olhar para mim agora, e dizer que tudo isso não passou de uma brincadeira, eu vou embora e só volto quando decidir parar com essa brincadeira idiota e me contar o que realmente está acontecendo.
Duas garras diferentes apertaram o coração dele. Uma de medo, que não queria perder a companheira, outra de excitação, que reanimou a vontade de se afastar dela para sempre. “É melhor que viva bem e longe de mim, do que comigo e morra nos meus braços.” Mas terminar o relacionamento com uma briga tão intensa não era o que ele tinha em mente.
Fechou os olhos, já cheio de lágrimas, antecipando mentalmente a cena que estava prestes a rever com riqueza de detalhes que antes não lhe foram revelados. Respirou fundo, juntou coragens em todos os cantos que conseguia encontrar dentro de si, e olhou a garota diretamente nos olhos.
Mesmo sabendo o que lhe esperava, a sensação fora ainda pior do que da primeira vez. As pernas falharam e ele despencou ajoelhado no chão; um frio abaixo de zero escalando-lhe a espinha, as mãos tremiam em resposta; as lagrimas contidas nas pálpebras voltaram a escorrer numa cachoeira salgada. Sustentou o olhar o máximo que pôde, os detalhes ficando cada vez mais nítidos. Sons, cheiros, sentimentos, tudo lhe invadiu a percepção e roubou-lhe o ar.
Alguma coisa também perturbou Vanessa. Ela viu que tinha algo errado naqueles olhos escarlates. Todo seu ódio se evaporou numa enorme nuvem de angústia. Também sentiu o corpo fraco, mas não caiu. Um vento gélido eriçou os pelos de sua nuca. Precisava sair dali, colocar os pensamentos no lugar. E rápido.
-Carlinhos, eu preciso sair. Eu te ligo amanhã. – recolheu com pressa sua bolsa e as chaves do carro, e saiu, sem dizer mais nada.
Se tivesse forças, o garoto a agarraria pelo braço, a abraçaria forte e não largaria nunca mais. Mas a longa exposição aos caprichos da ceifadora cobrara um preço alto. Ele vira muito mais do que o próprio rosto rondando a morte da namorada. Ali, ajoelhado, inerte e indefeso, se enxergou no mesmo lugar, na mesma situação, de frente para Vanessa, chorando, enquanto ela mesma sentia o medo e a gravidade da situação apertar seu peito. Em seguida a viu em sua mente pegando a bolsa e as chaves, correndo para o carro, sem saber exatamente do que. Segundos depois ela dirigia a cento a vinte quilômetros por hora mal prestando atenção, ou sequer se importando, para onde ia, ainda fugindo daquela ameaça invisível e de olhos vermelhos. A garota secava as lagrimas com impaciência, usando apenas uma das mãos para guiar o volante. Carlos tentou obliterar o final, mas a mente já havia perdido qualquer resquício de força para lutar contra a visão. O carro capotara, dando duas voltas em meia. Cacos de vidro voavam para todos os lados. Sangue pintou o painel, o assento e o forro. Por alguns segundos houve gritos, que se calaram logo em seguida.
Enquanto tudo isso passava pela sua mente, o rapaz ficou lá parado como uma estátua no meio de sua sala, durante horas. Sabia que o telefone não tocaria no outro dia para sua namorada lhe desejar bom dia ou qualquer coisa que ela fosse lhe dizer. E o pior de tudo, sabia que a culpa era toda dele. Se o destino é cada um quem faz o seu, Carlos era um enviado do inferno, traçando ao seu bel prazer o fim daqueles que ousam mirar seus olhos de fogo. Mas o inferno era sua própria mente atordoada, assombrada.
Agora que não tinha mais nada a perder, decidiu enfrentar o seu último e mais forte medo, que vinha evitando desde que se conhecia por gente. Levantou-se sem pressa, ainda fraco. Foi até o banheiro, onde um grosso lençol preto escondia o espelho. Nunca havia olhado para os próprios olhos, pois de algum modo sabia que a loucura mergulharia de ponta dentro deles. De repente sentiu um frio na barriga que quase o fez vomitar, mas agora, mais do que nunca, estava disposto a por sua teoria à prova. Com o coração acelerado de ansiedade, retirou o pano preto com cuidado, ainda com a cabeça baixa. “Nada vai ser pior do que eu vi acontecer com Vanessa” pensou enquanto tentava reanimar sua coragem.
E então olhou.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Continuação - Maldito Rancho Raccoon

Hello there!
E ae pessoal! Passado a primeira Battle of Books, trago de volta essa semana o conto do David e do Jotapê.
Como ainda estou seguindo o modelo de pouco conteúdo por post, para não ficar cansativo, talvez falte um pouco de ação, mas vou começar a postar com mais frequência, assim não fica tão 'chato'.
Antes, gostaria de dizer que semana que vem vai ter o próximo BoB, não vou adiantar quais livros disputarão, mas fiquem de olho, vai ser bem legal. Outra coisa. Um número bem legal de seguidores apareceram com o início do BoB, mas ainda falta MUITO para chegarmos no mínimo para eu sortear um livro. Então, por favor, convidem os amigos para participar do blog também! Vamos chegar nos 50 seguidores!

Em relação ao conto, foi a primeira vez que escrevi usando palavrões. Não sou muito fã deles, mas achei que para o tema e o clima da história, seria até absurdo não usá-los.
Sem mais enrolação:

O maldito rancho Raccoon - parte 2

O primeiro sentido a voltar foi o olfato. Uma mistura peçonhenta de gasolina, grama, terra molhada, urina e comida podre invadiu os pulmões de David, fazendo os outros sentidos voltarem com mais rapidez. Em seguida veio o tato, fazendo-o se contorcer de dor devido a um mal jeito na coluna, também pudera, pois ainda estava preso ao cinto de segurança, num carro de ponta cabeça. Quando a visão voltou, assustou-se com a cena dos bancos revirados e seu corpo jogado de mau jeito embaixo deles.

Levou alguns segundos para processar o que estava acontecendo. David percebeu que estava sozinho no veículo e que os vidros estavam todos estilhaçados. Soltou-se do cinto, e com muita calma, se mexendo com cautela esperando algum espasmo de dor a cada movimento. Mas estava bem. Só a coluna doía por ter estado de ponta-cabeça.

Quando terminou de se arrastar para fora percebeu que estava no meio de uma espécie de ferro velho. Pilhas disformes de inúmeros carros lhe rodeavam, ameaçando cair a qualquer segundo. O céu estava fechado, mas a claridade da tarde atravessava as nuvens com algum esforço. Não havia nenhum sinal de furacão.

-Que bom que você levantou! Achei que estava morto.

A voz repentina o assustou um pouco, mas reconheceu o amigo antes mesmo de se virar para ele.

-Pô Jotapê, não me assusta desse jeito. – assim que avistou o amigo tomou outro susto. – O que aconteceu com você?

O rapaz estava sentado no capô do deveria ter sido um sedã, mas que agora não passava de metal retorcido e agourento, tentando fazer um torniquete com a própria camiseta para estancar um corte imenso na batata da perna direita.

-Não se preocupe. Não foi nada.

-Como que não foi nada? Eu estou enxergando seu osso daqui!

-Mas não está doendo, então não precisa se preocupar. Só me da uma ajuda para forçar esse nó aqui.

Juntos conseguiram improvisar o socorro. David quase desmaiou com o cheiro do sangue e a carne aberta escancarada.

-Como diabos isso aconteceu? – perguntou depois que engoliu a ânsia pela segunda vez.

-Aquele caquinho de vidro ali estava enfiado na minha perna quando eu acordei. – respondeu Jotapê, apontando para um objeto triangular no chão, todo manchado de vermelho. O pedaço tinha quase trinta centímetros.

-Puta que pariu! Olha o tamanho disso! Você deve ter perdido muito sangue. Deve ser por isso que não sente dor mais.

-Agora não é hora para nos preocuparmos com isso. Já não está sangrando mais, e temos outras coisas para pensar. Você viu sua mãe ou sua irmã por aí?

-Claro que não. Você me viu saindo do carro agora pouco. Eu não tinha levantado antes, saído para dar uma volta, e depois dormir de ponta cabeça de novo.

-Ta bom, não precisa ficar nervoso.

-Eu não estou. Desculpa. É que agora que mencionou, estou preocupado com elas. Onde elas poderiam estar, no meio desse monte de lataria. E outra, da onde surgiu esse ferro velho? Seria impossível não ver esse amontoado todo no meio da estrada.

-Concordo. Mas ficamos com tanto medo do furacão que poderia ter passado batido fácil! Eu mesmo estava preocupado só em não borrar minhas calças.

-Nem me fale. Que porra foi aquela?

-Puta que pariu! – berrou Jotapê, ficando em pé com muito esforço. Estava mais pálido e de olhos arregalados. – Que porra é aquilo!?

É isso ae pessoal! Semana que vem tem outra BoB e mais uma parte deste conto. Então não deixem de acompanhar, e, como sempre, deixem seus comentários!

quarta-feira, 9 de março de 2011

Vencedor BoB: Hamlet - Shakespeare

Hello there!
Depois de uma semana de atraso, finalmente saiu o resultado da primeira Battle of Books.
E o vencedor foi o clássico de William Shakespeare.
Gostaria de agradecer a todos que começaram a seguir o blog e ajudar no duelo, principalmente à Sanzinha, do blog Universo Literário, que é muito bom! Para que o sorteio ocorra, o número de seguidores ainda tem que aumentar muito! Então por favor convidem seus amigos para participar!
Para aqueles que não votaram no Hamlet, eu vou fazer uma resenha do Conto de Natal também, mas que estará disponível apenas no meu Skoob.
Abraços. Sigam e comentem, como sempre!

Hamlet - William Shakespeare

"Ser ou não ser? Eis a questão!"
Se você não conhece ou pelo menos nunca sequer ouviu essa frase em algum filme, então "há algo de podre no reino da Dinamarca".
A tragédia de Hamlet e tão famosa, se não mais, quanto a do eterno casal condenado Romeu e Julieta, e com um crítica à sociedade ainda mais forte!
A peça de teatro adaptada para o livro da uma obra pequena, apenas no sentido físico, pois a grandiosidade das personagens, das críticas implícitas e explícitas, do início-meio-fim transbordam em torrentes das míseras 161 páginas que tem a edição bilingue (que por sinal é perfeita!)
Talvez a narrativa simples, apenas em dialógos e breves (se não miníusculas e quase inexistentes) descrições do que acontece no cenário, desagrade alguns leitores acostumados com a presença do narrador, ou até mesmo sirva como impedimento para que novos fãs venham a conhecer a obra. O que é uma pena!
Tal característica não deveria degradar o texto, muito pelo contrario, pois a simplicidade enaltece a grandiosidade das cenas criadas com maestria. Imagina a dificuldade de se narrar uma cena apenas com dialogos. Seria bem difícil não acha? Agora imagine que nivel de qualidade uma obra assim deveria alcansar para ser sucesso no mundo inteiro por séculos e séculos. Isso é Shakespeare.
E a história é de fato genial! Hamlet, príncipe da Dinamarca, encontra o fantasma do próprio pai, que lhe diz ter sido morto por seu próprio irmão, para se casar com a rainha. A partir daí, os dois tramam um esquema para desmascarar o crime.
Se fingindo de louco, Hamlet coloca tudo em prática, e condena a todos, inclusive si próprio.
Levando tudo isso em conta, deduzimos que Hamlet é leitura obrigatória, livro de cabeceira, para todo mundo que tenha pelo menos um pingo de gosto pela literatura! Um clássico imortal que nos ensina algo novo a cada passada de olhos por suas linhas simples e geniais!

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Novidade! Battle of Books! (BoB)

Hello there!
Dessa vez estou trazendo uma novidade interessante para o blog!
Battle of Books, ou simplesmente BoB.
E o que diabos é isso? Simples. Eu separei 20 livros, de estilos bem variados, para fazer uma espécie de competição, uma batalha entre livros.
A cada três semanas, ou um mês, vou pegar dois livros desses, apresentar os prós e os contras de cada um, e vocês, nos comentários, vão escolher qual dos dois merece uma resenha. A votação terá o prazo de uma semana, e eu vou escrever a resenha do vencedor.
Beleza, mas agora vem a parte legal. No final dos dez duelos, se meu blog tiver alcansado mais de 50 seguidores, eu vou sortear um dos 5 livros vencedores para o melhor comentário.
Durante esses meses de duelo, chamem todo mundo para seguir o blog e comentar, não só na BoB mas também nos contos, e quando os 5 melhores forem selecionados, vou dar mais uma semana para mandarem comentários dizendo qual dos cinco vocês vão querer, e por quê?
A melhor frase vai ganhar um exemplar do livro escolhido.
Mas lembrem, somente se o blog chegar a pelo menos 50 seguidores!

E para começar o Bob, os livros escolhidos são: Hamlet, de William Shakespeare VS. Um Conto de Natal, de Charles Dickens


PRÓS:
Hamlet:
Não preciso nem dizer que só pelo fato de ser Shakespeare já é o maior pró de todos. Fora isso, Hamlet é uma das tragédias mais citadas em outras obras, seja livro, cinema, videoclipe. Quem não conhece a famosa frase "ser ou não ser, eis a questão?" E não é a tôa que tem toda essa repercursão. Para saber mais, vote nele!

Um Conto de Natal:
Charles Dickes não fica atrás de Shakespeare no quisito renome! Um autor fantástico, consegue prender a atenção com um personagem ranzinza e super avarento, mas que é impossível não se emocionar com o desenrolar da história. Para saber mais, vote nele.

CONTRAS:
Hamlet:
Talvez o que deixe os leitores mais com o pé atrás seja o fato da estrutura da narrativa ser em roteiro teatral, apenas com falas e quase nenhuma descrição de cenário.

Um Conto de Natal:
O livro tem uma visão espírita, e provavelmente quem não é dessa religião pode acabar não gostando do conteúdo.

É isso ae pessoal, essas são as obras que estão disputando a primeira Battle of Books. Votem, e não esqueçam de chamar os amigos para seguir o blog e concorrer ao livro campeão do BoB.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Conto de ficção/terror e novidades!

Hello there followers!
BIG DAY! Nossa, estou muito feliz! Hoje saiu o resultado do meu vestibular, e não só passei no curso de Letras-Inglês da Universidade Federal da Grande Dourados, como passei em quinto. Parabéns para a Angelica também, que passou em primeiro. (Vai ser impossível aturar ela agora).

O dia foi quase perfeito, tirando que fiquei chateado por meus amigos que não passaram em seus respectivos cursos, mas eles são muito inteligentes e ainda vão conseguir, com certeza.

Além disso, entrei em contato com minha revisora, e criadora deste blog, e aproveitando que ela ainda está de férias, passei o material que eu estava postando aqui para dar a super revisada com o olhar crítico que só ela tem. Então, por enquanto o conto "O último passo" vai ficar pausado, e no lugar dele vou postar uma história de terror, que por sinal estou devendo para um grande amigo meu faz décadas.

Não vou postar tudo de uma vez, para não ficar um texto muito longo e tal. Então, segue a primeira parte. Espero sinceramente que gostem.

O maldito rancho Raccon

Era de manhãzinha, mas as nuvens pesadas de chuva cobriam o céu de negro como um bolor agourento cobrindo um belo bolo esquecido na geladeira. E era exatamente esse cheiro que os ventos carregavam consigo. De mau agouro.

Contudo, aquilo parecia não incomodar nenhum pouco os quatro viajantes que se apertavam num modesto carro popular que corria a mais de cem quilômetros por hora numa estrada que só oferecia campos gramados desertos e o horizonte como vista.

A chuva ainda não caia, se concentrando no firmamento para incidirem com a força de um meteoro, e a mulher que estava ao volante, a mais velha dentro do carro, mãe da menininha de doze anos sentada no banco do carona e de um dos meninos sentado atrás junto com o melhor amigo, acelerava até onde o bom senso permitia e um pouco mais. Se conseguisse chegar em um posto ou alguma cidade antes da tormenta despencar, poderiam parar e esperar a fúria de Deus passar. Ou pelo menos diminuir.

Jotapê contou uma piada obscena no banco de trás e todo mundo caiu na gargalhada, até mesmo a pequena Rafaela, que não tinha entendido nada, mas não queria parecer menos esperta.

-Por favor João, cuidado com as palavras quando a Rafa estiver por perto. – pediu Cíntia, a motorista, sem repreensão na voz, com um sorriso nos lábios que não conseguia desfazer.

-Desculpa tia. – mesmo não sendo mais crianças, para nós as mães de nossos amigos serão para sempre nossas tias. – Mas não foi uma piada tão forte assim, e acho que ela já está bem grandinha.

-É mãe, eu não sou criança mais. – concordou a menina, tentando sem muito sucesso parecer convincente.

Cíntia foi a primeira a perceber. Ficou completamente séria e branca como leite em menos de um segundo.

-Meu Deus do céu o que é aquilo?

O pavor em sua voz chamou a atenção de todos para ela, que seguiram seu olhar rumo ao horizonte. Um frio abaixo de zero subiu nas espinhas de cada um.

Um enorme furacão negro dançava entre o chão e as nuvens, fazendo toda a paisagem se distorcer como se estivesse sendo puxada para o centro daquela enorme massa de ar. O tufão era gigantesco, e se movia como se fosse feito de várias peças que nunca se encaixavam em linha reta, sempre bailando de um lado para o outro. Se não fosse tão absurdo e assustador, seria belo, pois tanto a terra quanto as nuvens se fundiam nele, circulando-o com ferocidade e sincronia. Dois trovões beliscaram o enorme corpo de vento, poeira e fúria, e uma espécie de mancha vermelha começou a se espalhar por ele, como se tivesse sido ferido.

Enquanto o borrão se espalhava, David, Jotapê e Rafaela se contraiam contra o banco do carro, numa tentativa patética e instintiva de se afastar daquela coisa, enquanto Cíntia soltava o pé do acelerador e tentava frear. Mas o carro não parava.

-Mãe! Pelo amor de Deus o que a senhora está fazendo? – gritou David desesperado. – Você está nos levando direto para aquilo.

-Eu estou tentando frear! – respondeu a mulher que não estava nem um pouco mais calma que o filho. – Parece que a corrente de ar está nos puxando.

Tentou virar o volante para o outro lado, mas nem aquilo adiantou. Rafaela começou a chorar aos soluços. Jotapê pousou a mão em seu ombro frágil, sussurrando que tudo acabaria bem, que aquilo era só um sonho ruim, que não existiam furacões no Brasil. Ele mesmo se sentiu tolo ao dizer tais palavras.

No instante seguinte mais três gritos se juntaram ao da menina. O carro começara a se inclinar para o lado, ficando apoiado apenas nas duas rodas laterais. Uma lufada de vento mais forte terminou o serviço. O pequeno automóvel começou a dar cambalhotas no asfalto como se fosse uma bola meio murcha e o mundo ficou negro quando todos desmaiaram.

É isso ae pessoal! Daqui algumas semanas vem a próxima parte, e provavelmente mais uma resenha está para sair. Então fiquem ligados, mostrem o blog para todo mundo, e não esqueçam de deixar comentários dizendo o que gostou e não gostou! É sério, os comentários são MUITO importantes. Abraços.